Desde 2005, a Catedral Metropolitana de Campinas vem passando por um processo de restauração, o primeiro do gênero desde sua inauguração. No entanto, é a terceira intervenção que o edifício sofre desde 1883, tendo sido as outras duas apenas reformas.
Catedral Metropolitana de Campinas |
Sem ter, a princípio, a configuração que apresenta hoje e apesar de todas as mudanças sofridas, o prédio foi tombado pelo CONDEPHAAT, em 1981, e pelo CONDEPACC, em 1988 e hoje se destaca como um dos mais importantes patrimônios histórico-arquitetônicos de Campinas, se não o de maior importância.
O cônego Álvaro Ambiel, que é pároco da Catedral desde 1999, e que, ao lado do arquiteto Ricardo Leite, coordena as obras de restauração do Monumento, nos falou um pouco a respeito dos trabalhos que estão sendo realizados para a recuperação do prédio e qual a importância de resgatá-lo para a história de Campinas e de toda a região circunvizinha.
- De onde surgiu a idéia de restauração da Catedral?
Cônego Álvaro Ambiel |
- Como estão se dando os trabalhos e qual é o objetivo final?
Em 2005, nós fizemos uma intervenção por conta dos elementos que estavam, urgentemente, necessitando de um restauro e foi feito um planejamento e orçamos em mais de dois milhões de reais. Trocamos todo o telhado, mais de 1200 m² de telhas. Aqui na Catedral há quatro telhados, foram trocados. Trocamos o forro da nave central também, o forro do transepto, que foram as coisas mais urgentes e agora temos a segunda fase, que foi orçada em quase sete milhões de reais, que vai ser para o restauro da cúpula e do transepto, que é parte na frente da Catedral, mais a 13 de Maio, José Paulino e Costa Aguiar, que se referem à parte externa do Prédio, mas pra isso é preciso envelopar toda a Catedral, tirar toda a tinta sobre tinta, fazer uma análise laboratorial, para depois fazermos alguns outros restauros, por conta de algumas fissuras causadas pelo tráfego de ônibus na rua de trás da Catedral. Entramos com pedido de recursos no Ministério da Cultura, que nos autorizou usarmos da Lei Rouanet e fomos atrás de algumas empresas, que acabaram por não demonstrar interesse, mas estamos aí. Falamos, inclusive, com o Prefeito, que se interessou, inclusive entregamos a ele o Projeto e ele disse que iria ver o que poderia ser feito no IPHAN e em outros lugares também, para que a gente possa preservar, de fato, este nosso patrimônio histórico.
- Quem está tomando conta do projeto de restauração? Há algum acordo entre a Igreja e outros órgãos para a realização da mesma, tais como a Prefeitura e o IPHAN?
Realmente existe um acordo entre o CONDEPACC, que é daqui de Campinas, o CONDEPHAAT e o IPHAN, porque estes órgãos têm de aprovar todo o Projeto e existe um bom relacionamento nosso com as pessoas responsáveis, especialmente o arquiteto Ricardo (Leite) e eu, que somos os responsáveis. Nós temos um bom relacionamento com o CONDEPACC, o CONDEPHAAT, com o IPHAN e não encontramos entraves nenhum, em relação a estes órgãos preservacionistas. Agora, eles confiam na capacidade do restauro e no respeito que nós temos com a integridade do prédio, que é tombado.
- Outros prédios pertencentes à Igreja, como o Campus Central da PUCC e a Basílica do Carmo, também estão passando por esse processo ou passarão no futuro?
Realmente eu não saberia responder. No caso da Basílica do Carmo, me parece que o atual Bispo de Amparo, o Cônego Cipolini, já deu algum encaminhamento pra isso, mas eu não saberia dizer “as quantas andam” este processo. O mesmo se diga lá da PUCC Central. Eu sei que também são prédios tombados pelo CONDEPAAC e pelo CONDEPHAAT e provavelmente, os órgãos responsáveis vão entrar em contato e a própria PUCC, pra restaurar esses dois prédios, no caso específico, do Prédio Central. No caso da Basílica, a responsabilidade é do pároco, da Arquidiocese, na verdade. Mas se eles têm um plano para isto, o que vão fazer, eu não sei. O que eu sei é que o pároco à época, hoje Bispo de Amparo, Cônego Cipolini, restaurou os vitrais e fez o que foi possível dentro dos recursos que ele possuía. Espero que agora, o Cônego Jeronymo Furian, que foi nomeado pároco, dê continuidade ao processo de preservação da Basílica do Carmo, porque foi ali que, praticamente, Campinas começou. Então se trata de toda uma história que deve ser preservada.
- Qual a importância da restauração de um monumento como a Catedral para a cidade de Campinas?
O prédio em si, o próprio monumento que é a Catedral, o que ela representa de arte, de história, de cultura e também, de religiosidade, plantada no coração de nossa cidade. É aí que reside à importância da restauração. Muita gente que vem aqui, gente de fora, especialmente da Europa, dos Estados Unidos, ao olharem a Catedral, ficam todos de boca aberta, quer dizer, é uma pena, e aí vem uma crítica, evidentemente, as nossas autoridades, que não se sensibilizaram como deveriam, a preservar este patrimônio histórico, independentemente de ser da Igreja Católica ou não, mas o que significa isso? São duzentos anos de história que a Catedral representa e tem toda uma ligação com a cidade de Campinas. Depois, o que ela preserva de patrimônio histórico, pois nós temos aqui, o estilo barroco, o rococó, o neoclássico, então, tem uma explosão de arte aqui dentro (da Catedral) e uma mística neste prédio. Tá muito judiado sim, mas a gente vai tentar preservar isso tudo na medida do possível e de minhas forças também, que já não são tão fortes assim, mas estamos aí. Não sei dizer o valor deste ícone de nossa cidade, mas que deve ser preservado de uma maneira ou de outra, independentemente de seu aspecto religioso, isso deve, pois representa a história de Campinas.
ÁUDIO: Cônego Álvaro fala a respeito de como funciona a compra de terrenos e prédios tombados pelo Patrimônio Histórico em Campinas, em especial, no que se refere à própria Catedral.
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